Casa de Herança – Tácia Araujo
Casa de Herança
Tácia Araújo
Sempre me pergunto até onde vai realidade, onde ela cruza o limiar e vira imaginação.
De fato confesso que fico confusa com essa fronteira entre o real e a fantasia. Mas alguns fatos atualmente me fizeram ter certeza que o fantasioso se espalha no mundo dito “real”, mesmo que muitos não acreditem ou questionem minha sanidade.
Em dezembro de 1999 meus pais resolveram se mudar para uma fazenda que nossa família recebeu de herança de um parente distante.
A fazenda era muito antiga, localizada próximo a Br 116 e era aquele tipo de lugar que arrepia a pele de todos que pousam os olhos sobre o terreno rodeado de uma floresta muito antiga.
Muita gente comentava que não moraríamos por muito tempo lá porque acontecia muita coisa estranha. A vizinhança relatava uma quantidade incrível de acontecimentos espantosos. Mas como toda história fantástica, haviam mais pessoas duvidando que acreditando.
Meu pai fazia parte dos incrédulos não deu ouvidos aos comentários.
Aparentemente parecia ter sido a decisão acertada. Viviamos felizes e aproveitando bastante os vastos comodos da casa e seu quintal enorme.
5 meses se passaram e finalmente chegou o inverno.
Tinhamos uma lareira muito elegante e que aquecia a casa. Minha irmã e eu dividíamos o mesmo quarto. Isso de forma alguma era uma questão que incomodasse, pois o comodo era muito grande. E mesmo com 2 camas de solteiro, ainda havia um espaço bastante grande entre nós duas. Era como se tivessemos conseguido montar 2 quartos em 1.
Certa noite, ao me recolher ao meu quarto para dormir, senti grande dificuldade para pegar no sono. Rolei na cama por bastante tempo.
Por volta da meia noite levantei e fui ao banheiro.
Ao voltar para o quarto senti algo muito estranho. Uma sensação que nunca tinha experimentado antes. Uma presença. Tinha certeza havia mais alguém ali alem de mim e minha irmã.
Não dei muita importância. Achei que fosse confusão da minha mente ou efeito do sono que começava a chegar.
Voltei para a cama e me deitei. Mas quase dou um salto quando sinto o colchão se comprimindo, como se alguém se sentasse do meu lado, na beira da cama.
Não vi ninguém.
Apavorada, abracei meu travesseiro, fechei os olhos. Podia ser imaginação, mas eu senti a presença e logo em seguida alguem na cama comigo. O que poderia ser?
Mal pude organizar meus pensamento quando alguma coisa me puxa da cama.
Caio no chão totalmente tomada de terror e saio sai correndo e gritando para o quarto dos meus pais.
Mal conseguia falar de tanto pavor.
Aos poucos me acalmei contei o que havia acontecido.
Meu pai foi no meu quarto imediatamente, olhou por toda parte e como era de se esperar, não viu nada.
Verificou a janela e foi do lado de fora ver se havia alguém rondando a casa.
Também não viu nada.
Porém eu pude ver um vulto passando por tras dele quando ele abriu a porta e entrou de volta na casa.
Após esse episódio, fui chamada de mentirosa e maluca. Comecei a questionar se de fato eu vi e senti aquilo ou se meus pais e irmã estavam certos e eu estava enlouquecendo.
Não muito tempo depois minha tia, irmã do meu pai, Também foi morar conosco na casa com seus 3 filhos e o marido. A casa era grande o suficiente para todos.
Não demorou muito tempo para que eles percebecem que eu não estava mentindo.
Eles viram vultos, passos no corredor, panelas caíam do fogão, luzes passeando a noite no quintal.
Meu pai nunca viu nada disso mas agora acreditava quando minha tia contava. Sua irmã era mais velha e não tinha razões para inventar uma coisa dessas.
Naturalmente passou a acreditar em mim quando encontrou as portas do armário abertas ao acordar. As portas estavam fechadas quando ele foi dormir e no dia seguinte estavam abertas.
Pouco tempo depois todos nós nos mudamos da casa. Isso até hoje é inexplicável para todos nós.
É por essas e outras que falo que não estamos sozinhos.