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O Vampiro Original: Antes do Conde Drácula já existia o Lorde Ruthven

O Vampiro Original: Antes do Conde Drácula já existia o Lorde Ruthven

 

De um obscuro mito do folclore a filmes de sucesso como a Saga Crepúsculo, os vampiros percorreram um longo caminho, tornando-se uma figura comum na cultura popular de hoje. Embora seja impossível traçar a origem exata dessas criaturas sugadoras de sangue – que faziam parte do repertório de horror em culturas tão antigas quanto a Mesopotâmia – o que introduziu os vampiros como os conhecemos hoje remonta ao século XVIII.

Na Europa Oriental e nos Bálcãs, em particular, houve um frenesi com relação a vários avistamentos de mortos-vivos e outras atividades paranormais. Naquela época, a palavra “vampiro” veio a ser usada pela primeira vez.

Bela Lugosi como Conde Dracula na versão para cinema de 1931

Mas a imagem de um vampiro como um aristocrata exótico e misterioso que geralmente encanta suas vítimas antes de se banquetearem com seu sangue está muito distante dos aldeões que supostamente voltaram dos mortos nos Balcãs rurais do século XVIII.

Embora a maioria relacione o vampiro tradicional como Bram Stoker imaginou em seu romance gótico Dracula de 1897, inspirando-se no soberano da Valáquia do século 15, Vlad Tepes III, esta não foi a primeira vez que tal personagem apareceu na literatura britânica.

Bram Stoker (1847-1912), escritor nascido na Irlanda e autor de “Dracula.”

Em 1816, um vampiro entrou na imaginação do famoso poeta romântico Lord Byron. Três anos mais tarde, seu médico pessoal, John Polidori, usou os escritos de seu amigo e paciente para produzir sua própria versão do maligno ghoul que vive apenas à noite. Ele o chamou de Lorde Ruthven.

Retrato de Lord Byron

O protótipo de Lorde Ruthven foi concebido pela primeira vez na residência de Byron no Lago de Genebra, na Suíça, chamado Villa Diodati. Foi aqui que o nobre popular e travesso, com talento para versos, convidou vários amigos escritores de alto nível para embarcar em uma sessão de escrita com ele. Polidori já estava presente no local, afinal ele era o “médico de viagens” de Byron.

A Villa Diodati

Entre os visitantes estavam Mary Wollstonecraft e seu futuro marido, Percy Shelley, ambos os quais se tornaram figuras importantes do movimento Romântico. Mais conhecida por seu nome de casada, Mary Shelley criou o enredo de seu romance mais famoso, Frankenstein, durante a visita.

O rascunho manuscrito de Frankenstein de Mary Shelley começou na Villa Diodati, com notas comentadas de Percy Bysshe Shelley.

Curiosamente, isso foi em junho de 1816, durante o chamado Ano Sem Verão, quando toda a Europa e partes da América do Norte estavam passando por uma série de anormalidades climáticas. As temperaturas caíram, deixando os meses de verão encharcados de chuva e frio.

Mary Wollstonecraft.

Então, era uma mansão em um lago, acompanhada de chuva e trovão. O cenário em si estava pedindo uma história de terror. Enquanto o casal trabalhava em suas histórias, Byron escreveu sobre um certo sanguessuga com um aristocrático perfil, chamado Augustus Darvell.

A publicação da New Monthly Magazine de O Vampiro por John William Polidori, 1 de abril de 1819, vol. XI, nº 63, Londres.

Polidori, que esteve presente durante o processo de escrita, teve grande interesse no fragmento escrito por Byron e decidiu usá-lo como uma amostra para sua própria história intitulada simplesmente O Vampiro. Foi publicado em 1819 na New Monthly Magazine e foi atribuído pela primeira vez a Byron. Posteriormente, a história foi legitimamente creditada a Polidori, considerado hoje o pai da moderna ficção de vampiros.

Foi assim que Lord Ruthven ganhou vida – pelo menos no papel – como uma combinação de Augustus Darvell e uma paródia do próprio Lord Byron, que foi descrito por Polidori como um mestre-sedutor com um gosto pelo sangue humano.

Retrato de Lady Caroline Lamb (1785-1828).

O nome Lord Ruthven realmente se origina de outro romance, intitulado Glenarvon, escrito por Lady Caroline Lamb. Aparentemente, Lady Caroline teve um caso com Lord Byron, e os dois não se separaram nos melhores termos.

Como uma espécie de vingança, Lady Caroline escreveu um romance com o protagonista impressionantemente parecido com seu ex-amante.

O bom doutor decidiu adotar o personagem que já possuía as características de Byron e apimentá-lo com um toque macabro.

Página de rosto de “Vampiro: Um Conto” de John William Polidori.

Vampiro de Polidori foi a primeira narrativa coesa sobre o assunto, envolvendo todos os clichês habituais – um aristocrata playboy do século 19 que ataca meninas inocentes da alta sociedade, seduzindo-as e matando-as bebendo seu sangue para satisfazer seus desejos. Ele é ao mesmo tempo sedutor e perigoso e está preso à noite enquanto absorve poderes sobrenaturais da Lua.

Começando em Londres, a história continua na Itália, assim como na Grécia, onde Lord Ruthven mata a filha de um estalajadeiro. O Vampiro-Lorde é seguido por um companheiro chamado Aubrey, que não suspeita de sua verdadeira natureza até que seja tarde demais.

A história obteve sucesso imediato em parte devido à sua falsa atribuição a Byron, e em parte porque durante um tempo a a alta sociedade Européia foi absolutamente varrida por várias histórias de criaturas vampíricas à espreita.

As tradições, adaptações e recontagens apareceram logo depois, espalhando a história inicial como um vírus em toda a Europa – um subgênero nasceu. O próprio Bram Stoker foi influenciado pela história, que o inspirou a criar sua própria versão com Drácula.

Até hoje, a imagem concebida por Byron e desenvolvida por Polidori existe em numerosas representações de vampiros na literatura, cinema, TV e até em videogames.


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